domingo, 28 de agosto de 2011

A criação (Parte 1)

O Tempo sempre existiu e sempre vai existir. Quando ainda não se definia o que era haver, o tempo já havia. Ele passou uma eternidade tentando saber o que era o tempo, e outra admirando sua beleza quando descobriu.

Mas, em algum momento, o Tempo cansou de apenas ser; e decidiu que queria estar. Acontece que ele não sabia como passar de um para outro, e gastou uma eternidade pensando como fazer a mudança.

De tanto pensar, encontrou uma forma. Então, em um movimento de dentro para fora, o Tempo se tornou Espaço, mas ainda era Tempo. O Espaço era vazio e escuro. E, pela primeira vez depois de tanto tempo, o Espaço, que já tinha sido Tempo, sentiu-se só. Mas não tinha tempo para pensar no que fazer, e tinha ficado grande demais para se mexer e mudar para outra forma. Achou que o melhor a fazer era se adensar um pouco e criar companheiros.

Em um soluço, criou três entidades, que viriam a ser chamadas de Trindade Absoluta. Curioso com suas criações, o Espaço indagou a elas o que eram.

- Eu sou a essência da criação, com poderes de preencher o vazio com matéria. Posso dar a forma que quiser e gerar o que bem entender. Quero me chamar Nalus.

Menos afoito e mais certo do que dizer, o próximo disse:

- O nada é meu objetivo, sou a negação da existência. Separo, acabo, destruo, reduzo. Não vou ter denominação diferente de Trifan.

Tímido, pensativo, observador e levemente contemplativo, o terceiro decidiu se pronunciar:

- Vão me chamar de Cuzio, mas não queria ter esse nome para sempre. Entretanto, não tenho outra escolha. Sendo assim, decidi que vou ser o espírito da mudança, o ente destinado a não permanecer, mas alterar. Não crio, como meu majestoso irmão Nalus, nem destruo, como o incisivo Trifan, também sangue do meu sangue. Serei a força que influencia suas ações, tomando posse de produto deles e modificando a meu prazer. Serei dono das coisas mesmo sem poder fazê-las minhas.

Ouvindo o que fora proferido pelos três, e maravilhado com o que fizera, o Espaço chorou, e suas lágrimas são a fonte da vida.